Na iminência de uma ANEO que legitimará mudanças nas especialidades odontológicas brasileiras recomendo a leitura de um artigo (Oral Medicine: Defining an Emerging Specialty in the United States) que propõe uma nova definição do escopo da Medicina Oral em termos mundiais e uma nova terminologia para a área como “Medicina Oral e Maxilofacial” (eu estava presente em sua apresentação no último Congresso Mundial de Medicina Oral e me impressionou a concordância de todos quanto ao seu conteúdo e valor).

Foi escrito por um time de especialistas internacionais visando o reconhecimento definitivo da área (ainda está em processo de reconhecimento oficial nos EUA) sendo baseado em questionários enviados por todo o mundo e respondido por 200 professores e profissionais atuantes em 20 países que, ao seu modo, ajudaram a mostrar o que cada um entende por Medicina Oral. Ver http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21382142 // http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21382143 e quadro abaixo.

Se o termo Medicina Oral não soa bem para a comunidade odontológica brasileira, a verdade é que vários países o utilizam e entendem que é muito mais que o estudo e o tratamento das doenças da mucosa oral, envolvendo também a dor orofacial, as desordens sensoriais, das glândulas salivares e o tratamento de pacientes sistemicamente comprometidos. No artigo definem a Medicina Oral de forma ampla como a área que estuda as situações de interseção entre a Odontologia e a Medicina, conforme visto no quadro acima. Vale lembrar que diversos programas de pós graduação na área são realizados em formato de residência plena e situado em ambientes hospitalares.

Se lamentamos que a Medicinal Oral tenha se fragmentado no Brasil em diversas especialidades tornando-a menos unida e focada, lamentamos mais ainda que novas divisões estejam sendo propostas para a ANEO-2014. A Comissão de Odontologia Hospitalar do CRO-RJ, por mim representada, defendeu a proposta de habilitação em Odontologia Hospitalar justamente por entender que uma nova especialidade seria neste momento, além de inútil do ponto de vista prático também desagregadora por tratar-se de local de atuação e de conhecimento de diversos especialistas já existentes. Mas, infelizmente, vários colegas não estão entendendo assim e, além da especialização em OH, também pedem especialização em Odontologia Intensiva, isso sem falar em diversas outras.

A Comissão também conseguiu aprovar uma proposta para a ANEO pedindo que o reconhecimento de especialistas seja feito por Sociedades das Especialidades da Odontologia, o que poderia trazer maior fortalecimento destas e melhor controle sobre os novos especialistas e habilitados, similar ao que ocorre na Medicina. Atualmente o CFO é quem realiza esta função de forma exclusiva.

Alegramo-nos com informações de que também foi acatada proposta da Comissão de Odontologia Hospitalar de um outro estado, que pede o reconhecimento de egressos de residências multiprofissionais em Odontologia Hospitalar, reconhecidas pelo MEC e Ministério da Saúde, como especialistas pelo CFO.

Porém , é frustrante ver propostas fragmentadoras do conhecimento médico aplicado à Odontologia, como se este não fosse algo único, independente de onde se aplica, com que recursos terapêuticos se trabalha ou a qual sistema orgânico se relaciona. Como se a área bucofacial fosse uma projeção de especialidades médicas cuja compartimentalização fosse possível ou mesmo necessária.

Vejo isso como claros exemplos de desconstrução profissional e desconhecimento acadêmico cujas alegadas finalidades de se suprir um mercado podem ser mais um tiro no pé do que uma abertura de oportunidades. Mas, como a esperança é a última que morre estarei torcendo por serenidade e sapiência dos meus pares em São Paulo.