Apesar de não fazer parte do grupo de especialistas em disfunções da ATM que acham que tudo é causado por problemas oclusais, também não sou do time dos que acham que a participação da oclusão seja zero.
Se já fui devidamente convencido que a participação da oclusão é muitíssimo menor do que se supunha há 20 anos, ainda não me foi provado cientificamente que ela seja nula.
Alguns artigos, como o publicado no Quad Oral de outubro por Wang e colaboradores, trazem um conceito que, a primeira vista, tende a valorizar a participação da oclusão (ou de desvios da oclusão ideal) na gênese das DTMs.
Mas a análise mais detalhada do trabalho mostra um erro conceitual grave que em nenhum momento foi descrito no relato.
Muito resumidamente ele conclui que alterações oclusais detectáveis por dispositivos digitais são mais prevalentes em sujeitos com DTM do que em sujeitos saudáveis.
E parte dessa premissa única para afirmar que seria cabível a realização de ajustes oclusais ou outros procedimentos irreversíveis para corrigir esta desarmonia, e com isso recolocasse as coisas “em ordem” e as DTMs se extinguissem.
No entanto, os autores não mencionam a possibilidade de que as desarmonias fossem causadas (e não causadoras) pelas DTMs. Afinal, a dor é um importante gerador de incoordenação muscular e desequilíbrio proprioceptivo.
Da forma como se concebeu o trabalho não é possível concluir que ajustes oclusais tratariam as DTM, já que o estudo foi somente comparativo e não se acompanhou a evolução dos casos com DTM.
Um estudo mais coerente que envolvesse esta metodologia deveria acompanhar um grande grupo de pessoas saudáveis durante um longo período de tempo, procurando significância estatística entre as alterações oclusais e a incidência de novos casos de DTM.
A meu ver o estudo não contribui para a melhor compreensão da existência de fatores oclusais como responsáveis pela origem de DTMs, apesar de constatar uma maior instabilidade oclusal nestes pacientes.