Após as lesões faciais sofridas pelos jogadores de futebol Renato Augusto (Flamengo) e Dodô (Fluminense) fiquei intrigado com a notícia divulgada pela imprensa de que seus tratamentos haviam sido realizados por um Médico. Procurei a internet para saber sobre a especialidade do Cirurgião e encontrei seu nome vinculado ao Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Municipal Miguel Couto (no Rio de Janeiro).
Causou-me estranheza maior o fato da cirurgia do atleta Renato Augusto, realizada para recolocação do osso zigomático (malar) em sua posição original, ter sido feita por acesso direto por sobre o arco zigomático.
Renato Augusto antes:
Renato Augusto depois:
Eu não sabia sobre esta área de atuação da Otorrinolaringologia na região Buco-Maxilo-Facial. Perguntei aos meus colegas se isso era comum e ouvi deles a assertiva de que a área da Buco-Maxilo (onde atuam Dentistas com formação cirúrgica) tem sido explorada também por profissionais da Medicina (ORL, Cirurgia Plástica, Cabeça e Pescoço e a Crânio-Maxilo).
Eis que hoje, ao pesquisar no site do Colégio Brasileiro de CTBMF, encontro um ofício do Presidente deste Colégio ao Conselho Federal de Odontologia relatando sobre a interferência da Medicina nesta área. Texto completo em http://www.bucomaxilo.org.br/index.php?go=not_exi&seq=208&PHPSESSID=4e49f69c873596e0ba352ebb433db39f.
Nele é citada a área de atuação da Buco-Maxilo em traumas:
* Fraturas da parede anterior do seio frontal
* Fraturas dos ossos próprios do nariz
* Fraturas naso-etmoido-orbitárias
* Fraturas do complexo zigomático (osso zigomático e arco zigomático)
* Fraturas da cavidade orbitária
* Fraturas da maxila em seus níveis de Le Fort I, II e III
* Fraturas da mandíbula
* Fraturas alvéolo-dentárias
* Ferimentos dos tecidos moles”
“Parágrafo único: Para esse tratamento o cirurgião buco-maxilo-facial pode efetuar os acessos cirúrgicos necessários, inclusive o acesso bicoronário”.
E, em uma declaração, a meu ver, bombástica o Dr. Mario Francisco Real Gabrielli cita:
“Apesar do grande progresso das últimas três décadas, entretanto, nunca corremos tanto risco de perder essa grande especialidade odontológica. Isso se deve a quatro coisas principalmente:
a) Os trabalhos de ponta e alta qualidade dão visibilidade à especialidade
b) Especialidades médicas desejam retomar espaços que consideram ter perdido ou que nunca tiveram
c) Há pressão por mercado de trabalho
d) Há grande corporativismo envolvido”
Ou seja, a preocupação quanto aos destinos desta especialidade não são só minhas. Creio que a Medicina e a Odontologia brasileira (CFO e CFM) deveriam entrar em um acordo quanto a estas áreas de confluência, para que, não só as classes se sintam satisfeitas, mas também os pacientes.