Publicado com permissão do autor: Dr. José Reynaldo Figueiredo do link: http://www.abope.com.br/artigoscientificos.asp

O aprendizado da cidadania em nossa sociedade tem se desenvolvido de maneira mais acentuada nos últimos anos, ainda, no entanto ao nos depararmos com situações não corriqueiras tendemos a nos resguardar e desviamos nosso foco de atuação para outras atividades.

Essa situação ocorre de forma muito nítida quando o tema é a pessoa portadora de necessidades especiais. Nota-se um desconforto no relacionamento com esse indivíduo; falta naturalidade, existe um ranço preconceituoso e isso demonstra que a integração dos indivíduos portadores de deficiências ou alterações sistêmicas, comportamentais, ou mesmo temporais não é exercida pela sociedade integralmente.

Essa postura tem se refletido dentro de nossa comunidade à luz das políticas públicas de desinstitucionalização e inclusão dos indivíduos portadores de necessidades especiais, trata-se de um equívoco estratégico comercial e social pois achados sinalizam que os cirurgiões-dentistas serão procurados para prestar serviços a esta população.

A classe odontológica, por participação de seus membros tanto sob a perspectiva profissional como pessoal, como integrante dessa sociedade, em todos seus segmentos: dirigentes, professores, alunos e profissionais de todas as especialidades têm uma oportunidade ímpar de mudar esse quadro.

É sabido por todos que professam essa profissão às dificuldades por que passam vários cirurgiões-dentistas que vêem cada vez mais escassear pacientes em seus consultórios e clínicas; os fatores decorrentes de tal situação são diversos e podemos enumerar vários, tais como mudanças nas necessidades da população, concorrência e valores subestimados dos serviços profissionais, além da alarmante estatística do decréscimo da proporção paciente/profissional. O interessante disso é a oportunidade que aparecerá no futuro para poucos cirurgiões-dentistas servirem mais pacientes especiais, aqueles dispostos a absterem-se de estigmas e propensos a uma mudança de seu status quo.

A OMS avalia que 10% da população de um país é portadora de algum tipo de deficiência (Brasil, 1995), no Brasil, teríamos portanto, aproximadamente, 18 milhões de pessoas nesta condição, entretanto dados recentes mostram números ainda maiores. Os resultados obtidos pela Tabulação Avançada do Censo Demográfico 2000 (IBGE, 2002) indicam que aproximadamente 24,5 milhões de pessoas, ou 14,5% da população geral, apresentam algum tipo de incapacidade ou deficiência. Considerando-se que uma família brasileira média é composta de três ou quatro pessoas, teríamos entre 60 e 75 milhões de pessoas envolvidas com os portadores de deficiência.

Outros números, que se referem a pessoas com real necessidade de uma atenção especial por parte do cirurgião-dentista, também soam alarmantes, quando destacados dentro da sociedade na qual coexistimos;

• Doenças circulatórias: estão em primeiro lugar entre as causas de morte no Brasil, com quase um terço de todas as causas, mais de um milhão de pessoas são internadas anualmente no país, afastadas de suas famílias e de suas profissões. Dentro do grupo das doenças circulatórias, o infarto do miocárdio e as doenças cerebrovasculares são aquelas com maiores índices de mortalidade.

• Câncer: 465.000 novos casos para 2005

• Acidentes de trânsito: 35.000 mortos – 150.000 feridos

• Lesão Medular: 5.000 a 6.000 pessoas/ano

• Paralisia Cerebral: 7/1000 nascimentos

• Síndrome de Down: 1/600 nascimentos

• Diabetes Melito: 9% da população – 16 milhões de pessoas

• Casos de Aids: 362.000 casos entre 1980-2004

• Violência infantil: para cada 1 situação de relatada, ao menos outras 20 ficam no anonimato, sendo que 65% dos traumas físicos associados ao abuso infantil, ocorrem nas regiões da cabeça, face e pescoço, incluindo a boca (Centro Brasileiro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente).

Todos esses números, concernentes à sociedade brasileira, demonstram que há muito a se fazer em prol das pessoas e traz em seu âmago um ponto nem sempre discutido e praticado em nossa formação profissional: o exercício da sensibilidade.

Os números parecem exagerados mas são fornecidos diariamente na impressa leiga e na científica. São números expressivos e que apesar da frieza com que são apresentados significam gente, pessoas que estão ao nosso lado, fazem parte do nosso pedaço.

Você não está vendo?
Olhe do seu lado, se necessário abra mais o olho, se ainda não conseguiu ver, tente olhar para dentro de si mesmo…