Entrevista concedida ao portal Terra e disponível (resumida) no link: http://coracaosaudavel.terra.com.br/noticias_integra.php?id=219
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1- Qual a incidência de pacientes hipertensos em seu consultório?
R. Na clínica privada 15% e no serviço público onde atendo pacientes com comprometimento sistêmico, um pouco maior, cerca de 25%.
2- Como o dentista deve abordar este paciente hipertenso?
R. Dependendo do grau da hipertensão o Dentista não deve nem realizar atendimentos, caso da hipertensão severa. Nos casos leves e moderados o dentista deve realizar o atendimento, mas precisa estar em contato com o Médico quando houver suspeita de descontrole da hipertensão ou se procedimentos mais invasivos forem necessários.
3- Que informações o paciente deve passar ao dentista?
R. Há quanto tempo tem a hipertensão, se é feito controle médico, quais medicações foram prescritas. O histórico do paciente durante o atendimento odontológico também é importante e, em alguns casos, podem ser necessárias medidas de sedação farmacológica, hipnose ou outras técnicas de controle da ansiedade.
4- É preciso pedir algum exame cardiológico antes de se iniciar o tratamento?
R. O Dentista deve contribuir com o Médico no controle dos pacientes hipertensos e portadores de doenças cardíacas em geral. Os tratamentos dentários são bem comuns em nosso meio e esta pode ser a oportunidade de se avaliar o paciente, e em casos descontrolados encaminhar o paciente ao Médico para uma reavaliação. Em outras situações o Dentista pode pedir que o Cardiologista avalie um paciente para parecer médico em casos de cansaço crônico e obesidade em indivíduos que sejam fumantes, sedentários e acima dos 40 anos, mesmo se não há alteração da pressão arterial. Há ainda ocasiões onde é necessário o risco cirúrgico prévio à realização de cirurgias mais invasivas.
5- Como lidar com o estado de ansiedade deste paciente?
R. Em geral o contato pessoal e a empatia que se cria entre paciente e profissional são suficientes para o controle da ansiedade. Quando há um histórico desfavorável podem ser utilizadas técnicas de hipnose, ansiolíticos, sedação com óxido nitroso e até mesmo a anestesia geral.
6- Que complicações podem surgir durante procedimentos simples e cirúrgicos com estes pacientes?
R. Algumas complicações são mais relacionadas à ansiedade gerada pelo tratamento dentário como a hiperventilação, palpitações ou perda da consciência. Outras podem ocorrer por uso excessivo de adrenalina – utilizada em associação com o anestésico para melhorar a atuação deste – quando dor torácica e arritmias podem surgir. Por este motivo, em geral, é recomendado o uso máximo de apenas dois tubetes de anestesia em hipertensos.
7- Existe algum problema dentário que se agrave em pacientes hipertensos?
R. Alguns fármacos anti-hipertensivos, os bloqueadores de canal de cálcio, podem facilitar um quadro de inflamação gengival por induzir a hiperplasia gengival. Nesta situação pode ser necessária a substituição desta droga por outra, ou melhorar a higienização oral.
8- Como o tratamento farmacológico da hipertensão interfere na rotina do tratamento do dentista?
R. Algumas medicações podem provocar sintomas que são sentidos na boca como a xerostomia (secura bucal, muito associada a diuréticos), ardência oral e dificuldade de cicatrização (inibidores da ECA), alergias e toxicidade na mucosa (diuréticos mercuriais).
9- O dentista deve se preocupar com o paciente hipertenso a partir de qual número verificado da pressão arterial?
R. Pacientes com pressão sistólica acima de 120, diastólica acima de 80 e sinais clínicos como cansaço sob pequeno esforço, sedentarismo, obesidade e diabetes devem ser encorajados a procurar um médico. Porém só acima de 140×90 haverá alteração nas rotinas de atendimento, onde um parecer médico é obrigatório.
10- Quando há necessidade de um procedimento cirúrgico demorado, tem que ser em ambiente hospitalar?
R. Só raramente a internação será necessária, mas casos de hipertensão severa ou maligna podem estar presentes em pacientes que necessitem de abordagem odontológica emergencial e, aí sim, a internação será indicada.
* Se quiser acrescentar alguma informação que não mencionei e acha importante, fique à vontade.
R. É importante lembrar aos pacientes, e aos Médicos, que a recomendação de se abolir o uso da adrenalina (ou outro vasoconstrictor) pelo Dentista não tem base científica. O que se deve fazer é apenas limitar sua utilização (a ansiedade provocada pela dor – do próprio tratamento – causa a liberação de adrenalina endógena que também pode ser perigosa).
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