Na última edição da RBO (v.67, n. 2, 2010), excelente revista editada pela ABORJ há décadas, foram publicadas duas matérias que me chamaram a atenção. A primeira sobre as cefaleias, com a entrevista concedida pelo Prof. José Geraldo Speciali, conceituado Neurologista de Ribeirão Preto, e a segunda matéria, escrita pelo respeitado Cirurgião Buco-maxilo-facial, Nicolas Honse atual Presidente do Capítulo do Rio de Janeiro do Colégio Brasileiro de CTBMF.

Na ótima entrevista do Prof. Speciali, foi citado o trabalho dos Neurologistas relacionado ao tratamento das cefaleias. Os cefaliatras, como eles se denominam, são neurologistas que tem um foco no tratamento e controle das cefaleias, ou dores de cabeça. No texto, que indico para a leitura, foram abordadas as cefaleias primárias e secundárias e sua participação nas dores orofaciais, de competência do Cirurgião-Dentista.

Neste ponto há um ruído quando é dito que dores que ocorrem no crânio devem ser avaliadas por um Neurologista antes da atuação odontológica:

“…a conduta mais oportuna seria solicitar a avaliação de um neurologista para descartar a possibilidade de uma cefaleia primária do tipo enxaqueca ou tensional ou de cefaleia secundária.”

Eu creio que esta recomendação poderia ser direcionada a um Cirurgião Dentista que exerça a clínica geral ou outras especialidades, mas um especialista em Disfunções Temporomandibulares e Dor Orofacial (DTM-DOF), que não foi mencionado no texto, sabe reconhecer, sem maiores problemas, quando há uma referência de dor para o crânio cuja origem se dê em estruturas da ATM, já que o diagnóstico diferencial entre DTMs e cefaleias consta em sua formação básica.

Outro ruído que notei foi não haver mencionado a existência de um Departamento de Dor Orofacial, dirigido por CDs na própria Sociedade Brasileira de Cefaleia. Creio que seria de bom tom esta referência, já que se trata de uma entrevista concedida a um periódico odontológico.

Na outra matéria, publicada pelo Dr. Nicolas Honse, foi feita uma descrição geral da especialidade de CTBMF. Como Presidente do Capítulo RJ do CBCTBMF, vi com bons olhos a menção de parceria às especialidades de ortodontia, quando citava a cirurgia ortognática, de estomatologia e patologia bucal, quando citava a atribuição do Cirugião Buco-maxilo-facial direcionada ao tratamento de neoplasias, mas, quando citou as desordens temporomandibulares, omitiu a especialidade odontológica de DTM-DOF, reconhecida pelo CFO desde 2002, e que é a responsável pelo tratamento e controle clínico das patologias da ATM e dores orofaciais. Citou ainda o Cirurgião Buco-maxilo-facial como o responsável pela parceria interdisciplinar no tratamento da dor, omitindo mais uma vez a desejável parceria com a especialidade de DTM-DOF:

“…É necessária uma equipe que inclua, além do cirurgião buco-maxilo-facial, médico especialista em dor, fisioterapeuta, psicóloco e fonoaudiólogo para um correto diagnóstico e planejamento terapêutico do paciente.”

As duas matérias podem ser um indicativo de que a especialidade de DTM-DOF, precisa de maior divulgação (e me incluo na crítica de escrever pouco em periódicos) e necessita exercitar a realização de parcerias interdisciplinares para que ocorra uma maior visibilidade de suas atribuições. Talvez seja essa uma das missões mais importantes de uma futura sociedade de DTM-DOF no Brasil.

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